Certa vez, galopava o jovem fidalgo em perseguição numa região de altos penhascos que se debruçavam sobre o Atlântico, quando o animal no desespero da fuga, atirou-se ao mar.
O local estava coberto por neblina e o caçador somente percebeu o perigo, quando viu o precipício sob as patas do cavalo. Instintivamente, lembrando-se de uma pequenina capela da Virgem Maria, que avistara em sua desabalada corrida atrás da corça, implorou o socorro da Mãe de Deus. No mesmo instante o cavalo estacou subitamente sobre o abismo e com tanta força, que as ferraduras de suas patas traseiras ficaram marcadas no rochedo.
Refeito do susto, D. Fuas Roupinho dirigiu-se ao oratório a fim de agradecer a Nossa Senhora por lhe ter salvado a vida. Ajoelhou-se aos pés da imagem e, tomando-a nas mãos, encontrou preso a ela um pergaminho.
Com grande pasmo leu a história da efígie da Virgem Maria, que já era venerada em Nazaré nos primeiros tempos do cristianismo, e que , segundo antiga tradição, ter sido esculpida por São José na presença da Mãe de Deus e posteriormente pintada por São Lucas.
Dizia o documento que, quando os imperadores do Oriente, sucessores de Constantino, começaram a perseguir o culto das imagens, um monge grego do convento de Nazaré conseguiu tirar da capela uma estátua da Mãe Santíssima, fugindo com ela para a África. De lá a imagem foi levada à Espanha, onde permaneceu durante muito tempo num mosteiro próximo à cidade de Mérida, recebendo a veneração dos fiéis, devido a seus inúmeros milagres.
Quando os mouros invadiram a Espanha, , após a terrível derrota em Guadalete, foi obrigado a fugir e escondeu-se naquele convento. Ao retirar-se rumo ao Península Ibérica em companhia do frade Romano, levou consigo a referida imagem e algumas relíquias de santos, com medo de que elas fossem desrespeitadas pelos infiéis. Ao chegarem no alto de um escarpado rochedo junto ao oceano, encontraram uma pequena gruta e ali improvisaram um altar e colocaram a efígie da Virgem Santíssima e as relíquias, mas tiveram o cuidado de deixar junto um pergaminho contando a história da milagrosa santa.
Lendo este relato, D. Fuas Roupinho mandou erguer naquele local um santuário que perpetuasse o culto de sua protetora, a qual foi denominada Nossa Senhora de Nazaré, porque era proveniente daquela cidade da Palestina. Mais tarde, por ordem do príncipe D. Fernando, filho de D. João II, foi construída ali uma bela igreja, ricamente ornamentada pela família real. Na baixada próxima ao templo, junto à praia, formou-se a cidade de Nazaré, aglomerado de pescadores e uma das povoações mais tradicionais e características da terra portuguesa.
Em meados do ano de 1700, um caçador de cor parda chamado Plácido, quando procurava água em um igarapé, descobriu uma pequena imagem de Nossa Senhora, coberta de viçosa trepadeira, como se estivesse em um nicho natural. Piedoso, o caçador levou a Santa para sua pobre choupana erguida à beira da estrada. Ao ter notícia do achado, a vizinhança correu para admirar e venerar a imagem da Mãe de Deus, que foi identificada como sendo a réplica da Nossa Senhora de Nazaré venerada em Portugal, pois representava a Virgem Maria, sentada numa cadeira com o Menino Jesus ao colo.
A efígie encontrada por Plácido no meio da selva amazônica desapareceu de sua cabana alguns dias depois, indo localizar-se novamente no nicho natural onde havia sido descoberta. Chegando esse fato ao conhecimento das autoridades, a imagem foi recolhida à sede do governo, em Belém, de onde desapareceu, apesar da vigilância dos soldados. Compreendendo que a Santíssima Virgem desejava ser venerada naquele local, o governo mandou construir um abrigo de palha em torno do nicho de pedras, a fim de protege-la contra as intempéries. Aos poucos, a notícia das graças alcançadas pelos devotos que recorriam à Senhora de Nazaré passou ao conhecimento público.
Nossa Senhora de Nazaré é venerada desde os primeiros tempos do cristianismo. De acordo com a tradição, a imagem teria sido esculpida por São José. A devoção se propagou principalmente em Portugal ainda no século 11.
No Brasil, a devoção à Senhora de Nazaré chegou no século 17. Reza a tradição que Plácido José teria achado a imagem da Virgem de Nazaré às margens de um igarapé. Ele a retirou do nicho formado por pedras e coberta por trepadeiras, e a levou para sua pobre choupana, mas a imagem sempre retornava para seu nicho natural na beira do riacho.
Em uma terceira tentativa, até mantiveram-na sob a vigilância de uma guarda de soldados, mas no dia seguinte, ela estava novamente no córrego. O caminho entre o riacho e a capela – onde hoje existe o santuário – apresentava um rastro como sinal de que a Santa realmente havia passado por ali. Este é o caminho percorrido pelos fieis, no Círio de Nazaré.
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Salve Maria!